quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sobre o texto [1] Portelli, "What makes Oral History different"

Oi, pessoal, em relação ao texto [1], ele está na pasta sim, dêem uma olhada no conjunto de artigos do livro The Death of Luigi Trastulli and other histories. O TERCEIRO capítulo é exatamente o artigo "What makes Oral History different", ENTRE AS PÁGINAS 45-58 e que vai ser debatido na aula da próxima 4a. feira, 2 de setembro.

um abraço,

Alvito

A aula de 4a. feira, 26 de agosto


Oi, pessoal, conforme combinado, começamos a aula terminando de ler a última definição de História Oral (do historiador argentino Pablo Pozzi) em seguida passamos à exibição do filme Memórias do Cativeiro, de Hebe Mattos, produzido pelo LABHOI e que está disponível para compra no LABHOI (2o. andar do Bloco N) e também no site do LABHOI: www.historia.uff.br/labhoi . O filme permitiu continuarmos o debate sobre as características da memória e da tradição oral. Na próxima aula iremos debater as três modalidades de História Oral. O "dever de casa" consiste na leitura das páginas 6-9 da apostila.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A aula de hoje (6a. feira, 21/8)

Oi, pessoal, na aula de hoje, conforme programado, debatemos algumas definições de História Oral que constam na apostila do curso. Terminamos com a definição [18] de Alessandro Portelli:

“o elemento único e precioso que as fontes orais trazem para o historiador e que nenhuma fonte possui na mesma medida é a subjetividade do entrevistado. Se o enfoque da pesquisa é amplo e suficientemente articulado um panorama da subjetividade de um grupo pode emergir. As fontes orais não nos dizem apenas o que as pessoas fizeram, mas o que elas querem fazer, o que elas acreditavam estar fazendo, e o que elas agora pensam que fizeram.” (PORTELLI, 1998a:67)

Na próxima aula, leremos a última definição, do historiador argentino Pablo Pozzi e passaremos o vídeo "Memórias do Cativeiro", na sala 516 do Bloco O.

Até lá e um abraço,

Alvito

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Dever de casa" para 6a. feira

Ler a APOSTILA DO CURSO, que está na Pasta 242 e aqui no blog, da página 2 até a p.5.

Aula 01- 19/8 - Apresentação - Coisa da Antiga e a história de Seu Tião Peixeiro

Oi, pessoal,conforme combinado, vou postar aqui o material da primeira aula. Foi uma aula de apresentação em que cada um explicou o porquê de estar matriculado no curso. Foram distribuídos o programa, o cronograma e a bibliografia do curso que também estão no blog (e na pasta 242). A aula foi aberta com a música de Wilson Moreira e Nei Lopes, a partir da qual refletimos acerca da construção da memória como um diálogo entre passado (objeto de uma seleção) e presente:

Coisa da Antiga
(Wilson Moreira/Nei Lopes)

"Na tina, vovó lavou, vovó lavou
A roupa que mamãe vestiu quando foi batizada
E mamãe quando era menina teve que passar, teve que passar
Muita fumaça e calor no ferro de engomar

Hoje mamãe me falou de vovó só de vovó
Disse que no tempo dela era bem melhor
Mesmo agachada na tina e soprando no ferro de carvão
Tinha-se mais amizade e mais consideração

Disse que naquele tempo a palavra de um mero cidadão
Valia mais que hoje em dia uma nota de milhão
Disse afinal que o que é de verdade

Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga, ai na tina...

Hoje o olhar de mamãe marejou só marejou
Quando se lembrou do velho, o meu bisavô
Disse que ele foi escravo mas não se entregou à escravidão
Sempre vivia fugindo e arrumando confusão

Disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão
Devia servir de exemplo a "esses nego pai João"
Disse afinal que o que é de verdade

Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga
Oi na tina..."


Em seguida, dei o exemplo da primeira e desastrosa entrevista que fiz, que só funcionou graças à brilhante capacidade narrativa dos meus entrevistados, sobretudo do Seu Tião Peixeiro:

M.A.: Bom, então, é... prá começar, eu queria que cada um de vocês, um de cada vez, obviamente, falasse um pouquinho da trajetória de vocês antes de chegar em Acari, quer dizer como é que vocês vieram morar aqui em Acari

Tião Peixeiro (Sebastião): A trajetória até chegar...

(M.A.) A trajetória até chegar em Acari. Como é que vocês vieram morar em Acari e depois a trajetória em Acari que levou vocês a fundarem a Associação, como é que você vem a se tornar fundador de uma Associação. Aí a gente já começa a discutir a associação. Porque isso já faz parte até da questão relativa à associação, quer dizer ou seja, como é que alguém vem a se tornar o fundador de uma associação, qual o interesse...

Nestor: Aonde você morava e como é que você veio pra cá

M.A. : Onde nasceu, aquela coisa toda, um pouquinho da história da vida de vocês

Tião Peixeiro: Bem, quando eu vim prá aqui eu morava no Jorge Turco, num quarto alugado, eu trabalhava na empresa de ônibus, que faz a 362, mas eu achando que não dava prá continuar pagando aluguel, eu tinha vontade de ter minha casinha, nem que fosse numa favela, mas minha. Na época eu não tinha condição de comprar um terreno e construir uma casa. Pelo qual eu vim sem conhecer ninguém aqui dentro, nunca tinha vindo aqui dentro, aí vim de bicicleta, procurando, ia comprar um pedacinho lá embaixo, lá dentro do brejo, naquela época cem mil réis, né, foi em setenta e um, aí estiquei prá frente, vim até aqui, chegando aqui uma vizinha me disse: “ó, esse pedaço daí tá desocupado, o moço roçou aí mas não apareceu mais, te aconselho esse pedaço aqui”, que ele também não morava aqui. Mas, a minha situação não tando boa, eu não tinha como fazer a casa. Aí comprei lá no Jorge Turco, um bocado de madeira, umas pernas de três, não tinha dinheiro prá pagar o aluguel, dei um relógio que eu tinha prá pagar o carreto, coloquei aqui a madeira, deixei o vizinho do lado, que aqui tinha um barraquinho de táubua - de madeira, tomando conta prá mim, e a outra vizinha aqui do lado, até que eu pudesse vim e fazer o barraco; aí vim, reuni uns colegas, vim, eu botei as madeiras, joguei as telhas em cima, não tinha madeira prá cercar; comecei a juntar táubua de caixote, que é prá fechar o barraco.
Aí fechei um cômodo com táubua de caixote, não tinha porta prá entrar, vim morar, num barraco de chão, precisava fazer a cozinha, aí fiz a cozinha, não tinha telha, tudo cercado de táubua de caixote, aí eu fui na lixeira, arrumei um encerado, tapei com encerado. Aí fiquei, não tinha conhecimento nenhum. Aí cerquei, daqui até lá na frente, não prá vender, prá dar prás pessoas, de modo que pudesse trazer pessoas conhecidas prá perto de mim, que eu aqui era completamente estranho, aí comecei a dar esses pedaços daqui prá lá, aí comecei a arrumar ambiente com os moradores."


Fonte: Entrevista com Sebastião Carvalho Sobrinho, Jayme de Oliveira e Nestor Roque, em Acari, Rio de Janeiro, 20/3/96

Outros trechos dessa entrevista e a análise da mesma podem ser encontrados em um texto meu apresentado em um simpósio de História Oral: "História Oral e alteridades ou à sombra do Jequitibá". Vou colocar o texto na Pasta na 6a. feira e amanhã no blog.

um abraço a tod@s,

Alvito

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O PROGRAMA DO CURSO

GHT 04257 – HISTÓRIA ORAL - 2009 (II) – Marcos Alvito

www.opandeiro.net (para materiais sobre cursos anteriores de História Oral) e www.embaubacoronel.blogspot.com (para os materiais específicos do curso) e PASTA 242 (APOSTILA do curso e outros textos)

Objetivos:
Proporcionar uma introdução à teoria e às metodologias da História Oral privilegiando o exemplo prático de entrevistas com os jongueiros do Quilombo São José da Serra em Valença, Rio de Janeiro.

Programa:

Unidade I - Conceitos básicos e questões teóricas
- Definições de História Oral
- Modalidades de História Oral
- Especificidades da História Oral
- Breve História da História Oral
- História da História Oral

Unidade II - Jongo
- Algumas características gerais do jongo
- O jongo entre os escravos das fazendas do Vale do Paraíba
- O jongo do Quilombo São José da Serra
- Interpretando os jongos: a densidade histórica dos pontos cantados

Unidade III – História, Memória e identidade
- Identidade e memória
- Problematizando a história de vida
- Possibilidades da história de vida: um exemplo

Unidade IV - Metodologia
- Projetos de História Oral
- A entrevista
- Armazenamento e catalogação
- A interpretação


Unidade V: Prática
- Objetivos da entrevista e roteiro
- Debate
- Interpretação

TRABALHOS:
Um trabalho final individual que constará de uma entrevista, devidamente transcrita e comentada; o comentário (até 8pp.) deverá comparar a entrevista com uma ou mais entrevistas realizadas pelos colegas. A transcrição das entrevistas deverá ser posta em arquivo eletrônico, para facilitar a troca e a leitura.

Avaliação:
A nota final de cada aluno levará em consideração: a presença, a participação nas aulas, a entrevista e o trabalho final.

Leituras obrigatórias: VER CRONOGRAMA

Observação sobre a presença: Além de fazer parte da avaliação, devido às características especiais do curso, será reprovado o aluno que tiver mais do que 7 faltas (sete dias de aula). Será observada a seguinte gradação em termos da presença:

0 faltas: EXCELENTE
1-2 faltas: MUITO BOM
3-4 faltas: BOM
5-6 faltas: REGULAR
7 faltas: RUIM
8 ou + faltas: REPROVADO

EQUIPAMENTOS: Para a gravação das entrevistas, recomendamos o uso de gravadores digitais; os que utilizarem outro tipo de equipamento, deverão digitalizar a fita para garantir a preservação dos depoimentos.

Cronograma de leituras do curso

CRONOGRAMA DE LEITURAS DO CURSO
HISTÓRIA ORAL – Memórias de Jongueiros - 2009-02

01 19/08 APRESENTAÇÃO: DEFINIÇÕES DE HISTÓRIA ORAL; Leitura da apostila do curso

02 21/08 Idem

03
26/08 Exibição de vídeo para demonstrar AS POSSIBILIDADES DA HISTÓRIA ORAL: Memórias do cativeiro

04 28/08
MODALIDADES DE HISTÓRIA ORAL
Leitura da apostila do curso

05
02/09 ESPECIFICIDADES DA HISTÓRIA ORAL: [1] PORTELLI (1998a) “What makes oral history different”

06 04/09 BREVE HISTÓRIA DA HISTÓRIA ORAL; Leitura da apostila do curso e Leitura recomendada: TREBITSCH, “A função epistemológica e ideológica da História Oral no discurso da História contemporânea” In: FERREIRA,1994: 19-41

07 09/09 Exibição de VÍDEO ESPECÍFICO SOBRE JONGO: Jongo, calangos e folias

08 11/09 [2] PACHECO,Gustavo, (2007) “Memória por um fio: as gravações históricas de Stanley J.Stein” In: PACHECO, 2007:15-32

09 16/09 [3] STEIN,Stanley J., (1990) Vassouras, Capítulo VIII (“Religião e festividades na fazenda”) Leituras recomendadas [3B] : Capítulos VI (“Senhor e escravo”) e VII (“Padrões de vida”).

10 18/09 [4] JONGO DO QUILOMBO SÃO JOSÉ, (2002)

11 23/09 [5] SLENES,Robert W. (2007) “’Eu venho de muito longe, eu venho cavando’: jongueiros cumba na senzala centro-africana”

12 25/09 HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDENTIDADE: [6] POLLACK,1992: “Memória e identidade social”

13 30/09 HISTÓRIA DE VIDA - PROBLEMATIZANDO: [7] BOURDIEU, 1998: “A ilusão biográfica” In: FERREIRA e AMADO, 1998:183-191.

14 02/10 HISTÓRIA DE VIDA – UM EXEMPLO: [8] PORTELLI, “The best garbage man in town: life and times of Valtèro Peppoloni, worker” In: PORTELLI,1991:117-137.

07 e 09
Out. Ida ao Congresso da AHORA – Associação de História Oral da República Argentina Para apresentar o trabalho “Memória de bicho”

15 14/10 [9] THOMPSON,1992, capítulo 6 Projetos de H.Oral, exemplos

16 21/10 [10] THOMPSON,1992, capítulo 7 Objetivo, roteiro e procedimentos da entrevista;

17 23/10 [11] Leitura de entrevistas realizadas anteriormente com pessoas do Quilombo S.José Objetivo, roteiro e procedimentos da entrevista;

23, 24 e 25/10 Ida ao Quilombo S.José na 6ª. Feira após almoço; sábado à noite e domingo de manhã para entrevistas; Retorno domingo após almoço REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS

18 30/10 A entrevista; armazenamento e catalogação

19 23/10 Transcrição: dicas e padronização

20 04/11 [12] PORTELLI, “The Death of Luigi Trastulli: Memory and the Event” In: PORTELLI,1991:1-26.

21 06/11 Idem

22 11/11 Dúvidas sobre as transcrições e preparação para entregar ao LABHOI

23 13/11 ENTREGA: TRANSCRIÇÕES.
Relato sobre as condições de realização das entrevistas

24 18/11 Debate acerca das entrevistas realizadas

25 25/11 Debate acerca das entrevistas realizadas

26 27/11 Debate acerca das entrevistas realizadas

27 02/12 Debate acerca das entrevistas realizadas

28 04/12 Entrega dos comentários acerca das entrevistas

29 09/12 Correção e observações – debate dos resultados

30 11/12 AVALIAÇÃO DO CURSO pelos alunos

Bibliografia do curso

Bibliografia específica de História Oral

ALBERTI,Verena
(1990) História Oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro:FGV.

ALVITO,Marcos
(2004) “A favela venceu” In: A memória das favelas, Comunicações do Iser, Número 59, Ano 23. pp. 110-116.

(2009) “História Oral e Alteridades ou à sombra do Jequitibá”, texto inédito, Palestra de abertura do V Encontro Regional Sul de História Oral "Desigualdades e Diferenças".

(2009b) “Memórias de bicho”, texto inédito, comunicação a ser apresentada durante o Congresso da AHORA (Associación de Historia Oral de la Republica Argentina) em outubro de 2009.

BAYER,Ronald e OPPENHEIMER,G.
(2000) AIDS Doctors – Voices from the epidemic. Oxford University Press. Chapter One: Discovery and Commitment. Obtido no site www.nyt.com (Book Reviews)

BOSI,Ecléa
(1994) Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras. 3.ed.

BOURGUIÈRE,André
(1986) Dictionnaire des sciences historiques. Paris:Presses Universitaires de France.

BRANDÃO,Carlos Rodrigues
(1998) “A memória no outono” In: Psicologia USP, vol.9, n.2 (obtido no site www.scielo.com.br )

BURKE,Peter (Org.)
(1992) A escrita da história – novas perspectivas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista.

FERREIRA,Marieta de Moraes (org.)
(1994) Entre-vistas: abordagens e usos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV.

_____________________________ (Org.)
(1994) História Oral e multidisciplinaridade. Rio de Janeiro: Diadorim, 1994.

_____________________________ e AMADO,Janaína (Orgs.).
(1998) Usos & Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV.2.ed.

____________________________, FERNANDES,T.M. e ALBERTI,V. (orgs.)
(2000) História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, Casa de Oswaldo Cruz, CPDOC – Fundação Getúlio Vargas.

FREITAS,Sônia Maria de
(2002) História Oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP: Imprensa Oficial do Estado. Disponível em http://www.scribd.com/doc/7069689/Sonia-Freitas-Historia-Oral-Procedimentos-e-Possibilidades-PDF?autodown=pdf

GRACIA, Gerardo Necoechea e POZZI,Pablo (Orgs.)
(2008) Cuéntame cómo fue: introducción a la historia oral. Buenos Aires Imago Mundi.

HALBWACHS, Maurice
(2006) A memória coletiva. São Paulo: Centauro.

HISTÓRIA ORAL. Revista da Associação Brasileira de História Oral. Número 1 (junho de 1998) e Número 2 (junho de 1999).

LAVERDI, Robson
(2005) Tempos diversos, vidas entrelaçadas: trajetórias itinerantes de trabalhadores no Extremo-Oeste do Paraná. Curitiba: Aos Quatro Ventos.

LE GOFF,Jacques.
(1984) “Memória” In: Enciclopédia Einaudi, volume 1: Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda.

MATTOS,Hebe Maria
(1998) “Os combates da memória: escravidão e liberdade nos arquivos orais de descendentes de escravos brasileiros” In: Tempo, Rio de Janeiro, n.6, dez. 1998: 119-137. Disponível em http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg6-8.pdf . Observação: este número da revista Tempo é um dossiê sobre “Escravidão e África Negra”.

MEIHY,José Carlos Sebe Bom (Org.).
(1996) (Re) Introduzindo a história oral no Brasil. São Paulo: Xamã.

(1998) Manual de História Oral. São Paulo:Edições Loyola.2.ed. (revista e ampliada)

MONTENEGRO,Antonio Torres
(2003) História Oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo: Contexto. 5.ed.

MOTTA,Márcia Maria Menendes.
(1998) “História e Memórias” In: MATTOS,Marcelo Badaró (org.). História: pensar e fazer. Rio de Janeiro: Laboratório Dimensões da História, 1998.

POLLAK,Michael.
(1989) “Memória, esquecimento,silêncio” In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.2, n. 3,1989:3-15. (pode ser obtido no site www.cpdoc.fgv.br/revista )

(1992) “Memória e identidade social” In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n.10, 1992 :200-212.(pode ser obtido no site www.cpdoc.fgv.br/revista )

PORTELLI,Alessandro.
(1991). The death of Luigi Trastulli and othes stories: form and meaning in oral history. Albany: State University of New York Press.

(1994). The text and the voice: writing, speaking and democracy in American literature. New York: Columbia University Press.

(1996) “A filosofia e os fatos – narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais” In: Tempo, Rio de Janeiro, n.2, dez. 1996:59-72. (pode ser obtido no site da Revista Tempo: www.historia.uff.br/tempo )

(1998a) “What makes Oral History different” In: PERKS,Robert e THOMPSON,Alistair. Oral History Reader. London:Routledge. Pp.63-74.

(1998b) “O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana: 29 de junho de 1944): mito, política, luto e senso comum” In: FERREIRA e AMADO, 1998: 103-137.

(1997a) “Formas e significado na história oral: a pesquisa como um experimento em igualdade” In: Projeto História nº 14: 7-24.
(1997b) “O que faz a história oral diferente” In: Projeto História nº 14: 25-39.
(1997c) “Tentando aprender um pouquinho: algumas reflexões sobre a ética na História Oral” In: Projeto História nº 15:13-69. Disponível em www.pucsp.br/projetohistoria/download/revista/PHistoria15.pdf
(1997d) The Battle of Valle Giulia. Madison: The University of Wisconsin Press.
(2001) “História oral como gênero” In: Projeto História 22 (História e Oralidade): 9-36.
(2003). The order has been carried out: history, memory, and meaning of a Nazi massacre in Rome. New York: Palgrave Macmillan.

(s.d.) “A dialogical relationship. An approach to oral history.”, disponível em http://www.swaraj.org/shikshantar/expressions_portelli.pdf , obtido no dia 15/5/2009.

(s.d.) “Representing the poor”, disponível em http://www.hku.hk/sociodep/oralhistory/4/images/art/key%20Portelli%20article%203%20_Representing%20the%20poor_.pdf , obtido no dia 15/5/2009.

QUEIROZ,Maria Isaura Pereira de.
(1991)Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo:T.A.Queiroz.

RIOS,Ana Lugão e MATTOS,Hebe
(2005) Memórias do cativeiro. Família, trabalho e cidadania no Pós-Abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

SANTOS,Myrian Sepúlveda dos
(1998) “Sobre a autonomia das novas identidades coletivas: alguns problemas teóricos” In: Revista Brasileira de Ciências Sociais,vol.13,n.38. (obtido em www.scielo.com.br )

SITTON,Thad et alii.
(1989) Historia Oral – una guía para profesores (y otras personas). México (D.F.): Fondo de Cultura Econômica.

THOMPSON,Paul.
(1992) A voz do passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

VANSINA,Jan.
(1965) Oral Tradition: A Study in Historical Methodology. Chicago: Aldine Publishing.

VIDAL-NAQUET,Pierre.
(1988) Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas:Papirus.

Von SIMSON,Olga de Moraes (Org.).
(1988) Experimentos com histórias de vida (Itália-Brasil). São Paulo:Edições Vértice.


Bibliografia específica acerca de Jongo, quilombos contemporâneos e sobre a região do Vale do Paraíba


ALVITO,Marcos
(2008) “Com tanto pau no mato… notas para uma dialética da carioquice” In: II Seminário Cultura Popular, Patrimônio Imaterial e Cidades, 2008, Manaus. II Seminário Cultura Popular, Patrimônio Imaterial e Cidades, 2008.

(2009) “História Oral e Alteridades ou à sombra do Jequitibá”, texto inédito, Palestra de abertura do V Encontro Regional Sul de História Oral "Desigualdades e Diferenças".

ARRUTI, José Maurício
(1997) “A emergência dos ‘remanescentes’: notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas”, Mana, 3(2): 7-38. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n2/2439.pdf

(2006). Mocambo: antropologia e história do processo de formação quilombola. Bauru, Edusc.

GANDRA, Edir
(1995). Jongo da Serrinha: do terreiro aos palcos. Rio de Janeiro, GGE - Giorgio Gráfica e Editora:UNI-RIO.

HEYWOOD, Linda M.
(2008). Diáspora negra no Brasil. São Paulo, Contexto.

JONGO DA SERRINHA
(2002) Jongo da Serrinha. Rio de Janeiro, sem indicação de editora. Inclui CD com 13 faixas gravado pelo Grupo Cultural Jongo da Serrinha. Ver www.jongodaserrinha.org.br

JONGO DO QUILOMBO SÃO JOSÉ
(2004) Jongo do Quilombo São José. Sem indicação de local ou editora. Inclui CD com 26 faixas gravadas pelo grupo de jongo do Quilombo São José em Valença, RJ. À venda na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor.

KARASCH,Mary
(2000) A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: Companhia das Letras. Capítulo 8: “Samba e canção: a cultura escrava afro-carioca” e Capítulo 9: Participação em grupos sociais e religiosos.

LARA, Silvia Hunold e PACHECO, Gustavo
(2007). Memória do Jongo: as gravações históricas de Stanley J.Stein. Vassouras,1949. Rio de Janeiro:Campinas: Folha Seca:CECULT. Inclui CD com as gravações originais de Stanley Stein com ex-escravos em 1948.

LOPES,Nei
(1992) O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical: partido-alto, calango, chula e outras cantorias. Rio de Janeiro: Pallas.

(1995). Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

MATTOS, Regiane Augusto de
(2007). História e cultura afro-brasileira. São Paulo, Contexto.

MONTES,Maria Lúcia Aparecida
(1996/1997) “O erudito e o popular, ou escolas de samba: a estética negra de um espetáculo de massa”, Revista USP, 32: 6-25.

MOURA,Gloria
(1996) “A força dos tambores: a festa nos quilombos contemporâneos” In: SCHWARCZ,Lilia Moritz e REIS,Leticia Vidor de Souza, Negras Imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no Brasil. São Paulo:EDUSP:Estação Ciência.pp. 55-79.

RIBEIRO,Maria de Lourdes Borges
(1984) O jongo. Rio de Janeiro: FUNARTE.

SALLES, Ricardo
(2008). E o Vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.

SILVA, Marília T. Barbosa da e OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de
(1981). Silas de Oliveira: do jongo ao samba-enredo. Rio de Janeiro, Funarte.

STEIN,Stanley J.
(1990) Vassouras: um município brasileiro do café, 1850-1900. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Capítulos VI (“Senhor e escravo”), VII (“Padrões de vida”) e Capítulo VIII (“Religião e festividades na fazenda”).

Vídeos:
Boca de Lixo, de Eduardo Coutinho, Rio de Janeiro, CECIP, 1992, 48 min.

Memórias do Cativeiro, de Guilherme Fernández e Isabel Castro, Niterói, LABHOI-UFF, 42 min.

Jongos, Calangos e Folias: música negra, memória e poesia, de Hebe Mattos e Martha Abreu, Niterói, LABHOI-UFF, 45 min.

Imagens do Jongo, de Guillermo Planel, Rio de Janeiro, 26 min.

Sou de Jongo, de Paulo Carrano, Niterói, Pontão de Cultura Jongo/Caxambu e Observatório Jovem UFF, 66 min.

Apostila de História Oral - Parte I

APOSTILA

HISTÓRIA ORAL

Prof. MARCOS ALVITO

PARTE I:

DEFINIÇÕES de História Oral

As três MODALIDADES de História Oral

Rio de Janeiro - 2009


Definições de História Oral

[1] “A história oral foi instituída em 1948 como uma técnica moderna de documentação histórica, quando Allan Nevins, historiador da Universidade de Colúmbia, começou a gravar as memórias de personalidades importantes da história norte-americana.”
(Oral History Association – EUA; citado por THOMPSON,1992:89)

[2] “A história oral é a utilização sistemática da pesquisa oral pelo historiador.”
(JOUTARD In:BURGUIÈRE,1986:495)

[3] “Mais do que uma ferramenta, e menos que uma disciplina.”
(Louiss Starr, citado por TREBITSCH In:FERREIRA,1994:19)

[4] “Por História Oral se entende o trabalho de pesquisa que utiliza fontes orais em diferentes modalidades, independentemente da área de conhecimento na qual essa metodologia é utilizada.”
(Estatuto da Associação Brasileira de História Oral, fundada em 1994, Art.1º, par.1º; In: Revista de História Oral, nº1, 1998:14)

[5] “A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a compreensão – entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história.”
(THOMPSON,1992:44)

[6] “A história oral só nos relata o trivial sobre as pessoas importantes e as coisas importantes (através da sua própria visão) das pessoas triviais.”
(PRINS,Gwyn In:BURKE,1992:172, resumindo objeções à história oral – das quais PRINS não compartilha)

[7] “a História Oral, no fundo, é um instrumento pós-moderno para se entender a realidade contemporânea. (...) Pós-moderno por sua elasticidade, por sua imprevisibilidade, por sua flexibilidade.”
(CAMARGO,Aspásia In:FERREIRA,1994:75-76)

[8] “Há, segundo me parece, um consenso em que a História Oral é um trabalho de pesquisa, que tem por base um projeto e que se baseia em fontes orais, coletadas em situação de entrevista.”
(LANG,Alice Beatriz da Silva Gordo In:MEIHY,1996:34)

[9] “Em vista deste conjunto de procedimentos, pode-se aventurar uma definição de História Oral como um conjunto de procedimentos que vão desde o planejamento do projeto, a definição da colônia [“um grupo amplo que tenha uma ‘comunidade de destino’], a eleição das redes [subdivisões significativas da “colônia”], o estabelecimento de uma pergunta de corte [um dilema comum, importante e explicativo da experiência coletiva, um recurso básico de unidade dos depoimentos, questão que deve estar presente em todas as entrevistas], a elaboração das entrevistas, a feitura dos textos e a devida guarda, a conferência e a devolução do documento à comunidade que o gerou. No caso de caber análises (...) dependerão do término da fase anterior.”
(MEIHY,José Carlos Sebe Bom In:MEIHY,1996:54)

[10] “Que é, então, a história oral ? É um procedimento válido de investigação no trabalho do historiador e, num sentido secundário, das formas de historiografia criadas criadas por esta investigação. (...) A história oral são as memórias e recordações de gente viva sobre seu passado.”
(SITTON,1989:12)

[11] “Entendida como metodologia, a história oral remete a uma dimensão técnica e a uma dimensão teórica. Esta última evidentemente a transcende e concerne à disciplina histórica como um todo.”
(FERREIRA,M. & AMADO,J. In:FERREIRA & AMADO,1998:viii)

[12] “(...) é possível reduzir a três as principais posturas a respeito do status da história oral. A primeira advoga ser a história oral uma técnica; a segunda, uma disciplina; e a terceira, uma metodologia.”
(FERREIRA,M. & AMADO,J. In:FERREIRA & AMADO,1998:viii)

[13] [i] ”Aos defensores da história oral como técnica interessam as experiências com gravações, transcrições e conservação de entrevistas, e o aparato que as cerca: tipos de aparelhagem de som, formas de transcrição de fitas, modelos de organização de acervo etc. Alguns defensores dessa posição são pessoas envolvidas diretamente na constituição e conservação de acervos orais; muitos são cientistas sociais cujos trabalhos se baseiam em outros tipos de vontes (em geral, escritas) e que utilizam as entrevistas de modo eventual, sempre como fontes de informação complementar. (...) A essas pessoas, entretanto, somam-se as que efetivamente concebem a história oral como uma técnica, negando-lhe qualquer pretensão metodológica ou teórica: ‘A chamada ‘história oral’ não passa de um conjunto de procedimentos técnicos para a utilização do gravador em pesquisa e para a posterior conservação das fitas. Querer mais do que isso é ingressar no terreno da mais pura fantasia. A história oral não possui os fundamentos filosóficos da teoria, nem os procedimentos que [...] possam ser qualificados como metodológicos. Ela é fruto do cruzamento da tecnologia do século XX com a eterna curiosidade do ser humano’ (Roger,William. Notes on oral history. International Journal of Oral History,7(1):23-8,Feb.1986) “
(FERREIRA,M. & AMADO,J. In:FERREIRA & AMADO,1998:xii-xiii)

[14] [ii] “Os que postulam para a história oral o status de disciplina baseiam-se em argumentos complexos (...) parecem partir de uma idéia fundamental: a história oral inaugurou técnicas específicas de pesquisa, procedimentos metodológicos singulares e um conjunto próprio de conceitos; este conjunto, por sua vez, norteia as outras duas instâncias, conferindo-lhes significado e emprestando unidade ao novo campo do conhecimento: ‘Pensar a história oral dissociada da teoria é o mesmo que conceber qualquer tipo de história como um conjunto de técnicas, incapaz de refletir sobre si mesma [...] Não só a história oral é teórica, como constituiu um corpus teórico distinto, diretamente relacionado às suas práticas’” (Mikka,Ian. What on earth is oral history? In: Elliot,James K.(ed.).New trails in history.Sydney:Australian Press,1988.pp.124-136)
(FERREIRA,M. & AMADO,J. In:FERREIRA & AMADO,1998:xiii)

[15] [iii] “Entre os defensores da história oral como metodologia situam-se as autoras desta apresentação e organizadoras do presente livro. (...) A divergência entre os que pensam como nós e os postulantes da história oral como disciplina reside em outro ponto: estes reconhecem na história oral uma área de estudos próprio e capacidade (como o fazem todas as disciplinas) de gerar no seu interior soluções teóricas para as questões surgidas na prática – no caso específico, questões como as imbricações entre história e memória, entre sujeito e objeto de estudo, entre história de vida, biografia e autobiografia, entre diversas apropriações sociais do discurso.
”Em nosso entender, a história oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena procedimentos de trabalho – tais como os diversos tipos de entrevista e as implicações de cada um deles para a pesquisa, as várias possibilidades de transcrição de depoimentos, suas vantagens e desvantagens, as diferentes maneiras de o historiador relacionar-se com seus entrevistados e as influências disso sobre seu trabalho -, funcionando como ponte entre teoria e prática. Esse é o terreno da história oral – o que, a nosso ver, não permite classificá-la unicamente como prática. Mas, na área teórica, a história oral é capaz apenas de suscitar, jamais de solucionar, questões; formula as perguntas, porém não pode oferecer as respostas.
As soluções e explicações devem ser buscada onde sempre estiveram: na boa e antiga teoria da história. Aí se agrupam conceitos capazes de pensar abstratamente os problemas metodológicos gerados pelo fazer histórico. (...) Apenas a teoria da história é capaz de fazê-lo, pois se dedica, entre outros assuntos, a pensar os conceitos de história e memória, assim como as complexas relações entre ambos.”
(FERREIRA,M. & AMADO,J. In:FERREIRA & AMADO,1998:xiv-xv)

[16] “(...) é antes um espaço de contato e influências interdisciplinares (...) com ênfase nos fenômenos e eventos que permitam, através da oralidade, oferecer interpretações qualitativas de processos histórico-sociais. Para isso, conta com métodos e técnicas precisas, em que a constituição de fontes e arquivos orais desempenha um papel importante. (...) a história oral, ao se interessar pela oralidade, procura destacar e centrar sua análise na visão e versão que dimanam do interior e do mais profundo da experiência dos atores sociais.”
(LOZANO,Jorge Eduardo Aceves In:FERREIRA & AMADO,1998:16)

[17] “Não voltemos à expressão ‘história oral’. Ela se tornou inadequada e só deveria ser empregada a título histórico, para qualificar o período historiográfico dos anos 50 aos 80. (...) Portanto, se a história oral é entendida como um método, ela deve incluir-se na história do tempo presente, e se ela serve para designar a parte pelo todo, a expressão deve ser abandonada em prol da história feita com testemunhas.”
(VOLDMAN,Danièle In:FERREIRA & AMADO,1998:34)

[18] “o elemento único e precioso que as fontes orais trazem para o historiador e que nenhuma fonte possui na mesma medida é a subjetividade do entrevistado. Se o enfoque da pesquisa é amplo e suficientemente articulado um panorama da subjetividade de um grupo pode emergir. As fontes orais não nos dizem apenas o que as pessoas fizeram, mas o que elas querem fazer, o que elas acreditavam estar fazendo, e o que elas agora pensam que fizeram.” (PORTELLI, 1998a:67)

[19] “A utilização de testemunhos orais para reconstruir o passado é um recurso tão antigo quanto a própria história. A história oral, em contrapartida, quer a consideremos como uma especialidade dentro do campo historiográfico ou como uma técnica específica de investigação contemporânea a serviço de várias disciplinas, é um produto do século XX que enriqueceu substancialmente o conhecimento da história contemporânea.
A história oral e a tradição servem de fundamento para reescrever a história, mas também para combater as injustiças do passado. Povos que foram conquistados ou colonizados, no presente recorrem à sua tradição oral e resgatam a sua memória para reclamar direitos territoriais, linguísticos, ou para recuperar uma identidade cultural própria; sobreviventes da luta contra regimes militares ou opressivos, questionam hoje a história oficial com suas memórias subterrâneas e demandam o reconhecimento social e o castigo legal dos responsáveis por violar os direitos humanos. Ainda que de forma menos dramática, a gente comum exige respeito às suas memórias e tradições. “(POZZI,Pablo In: GRACIA e POZZI, 2008:5-6)

As três modalidades de história oral – de vida, temática e tradição oral

Obs: Os trechos de entrevista são material inédito ainda não publicado; pede-se não citar nem divulgar

I. História oral de vida

Definição: “narrativa do conjunto da experiência de vida de uma pessoa” (MEIHY,José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Edições Loyola,1998.2.ed.p.45)

“Exemplo”: Líder religiosa de uma igreja neo-pentecostal em Acari, 31 anos
(Entrevista realizada por M.A. em 14/5/1996, na própria Igreja, ver ALVITO,2009)

(M.A.) ... era a senhora falar rapidamente da onde a senhora nasceu, como é que a senhora foi criada, quem eram seus pais e como é que pela primeira vez a senhora se interessou pela religião, como é que foi isso.

Missionária: Marcos, eu nasci lá em Vila Kennedy, na rua [?] número 20, Vila Kennedy. Eu nasci em casa mesmo, não nasci no hospital, eu sou a filha mais nova e tenho 5 irmãos, comigo são cinco, eu sou a mais nova, o outro já partiu, mais novo, e na minha casa só quem é cristão sou eu não tem mais ninguém evangélico. Eu fui levada pra igreja com seis anos, tinha seis anos nesse tempo quando eu fui pra igreja. Eu não fui levada pelos meus pais, meus pais não eram cristãos, fui levada por uma senhora da Igreja Congregacional, uma igreja que tinha lá em Vila Kennedy, ainda tem essa igreja, e essa senhora se chamava Dona Juventina. Eu achava bonito aquelas crianças todas da rua, festival dominical, né que se chama, se chamava, e eu comecei, como diz, naquela coisa toda de criança, gostava muito, fazia muita bagunça na igreja, às vezes eu virava até banco da igreja, criança, né, com seis anos. Eu me lembro como se fosse hoje. E dali eu comecei. Aí as meninas foram se formando, foram ficando mocinhas também. Mas as minhas irmãs também iam com gosto pra igreja, a turma daquelas crianças toda.
E dessas crianças só quem escapou assim que ficou mesmo até hoje na Igreja, né, foi eu e mais duas moças, que hoje seguiram outros caminhos, outras igrejas, que é a Tânia e Janete. E eu fiquei, mas eu fiquei nessa Igreja até os doze anos, porque só tinham pessoas de idade lá, né, então eu não sei, com doze anos, vi as coisas assim mais clara na minha mente aí senti um desejo assim de fazer algo para Deus. Entendeu? Com doze anos. Então eu dizia que queria ser uma missionária, eu não dizia pastora, eu dizia que queria ser uma missionária, desde os meus doze anos. Que eu queria ser uma missionária, que eu queria fazer a obra de Deus. Entendeu? Mais aí eu não entendia nada. Não tinha assim aquela sabedoria dentro da palavra. Eu pensava que ser uma missionária era só chegar ali na frente, pegar o microfone, lê um versículo da Bíblia, pronto, acabou. Mas conforme a gente vai crescendo, né, assim, espiritualmente dizendo, na palavra, não é nada daquilo, a gente tem que estudar, né, entrar bem na palavra de Deus. Então para ser uma missionária não é só chegar ali na frente e falar, tinha que descobrir se eu tinha mesmo um chamado de ser uma missionária. Eu te falei, se eu tinha mesmo o chamado de ser escolhida de ser enviada a um lugar, né, ser uma missionária mesmo.
Daí que eu fui descobrindo como. Eu tinha um pastor chamado pastor Marcos, aliás missionário Borges, hoje ele tá pra São Paulo, ele dizia pra mim assim: ‘Ah, você vai ser uma grande missionária, você tem o chamado.’ Eu ficava toda boba, né? Eu vou ser missionária como? Ele dizia: ‘O tempo, o tempo vai dizer.’ Aí começou a me dar oportunidade na igreja, pra mim pregar, eu não entendia nada, falava tudo gaguejando, tremia muito. Nisso eu falei assim: se a gente quer algo a gente tem que se lançar, né, a gente tem que se esforçar. Nesse momento eu comecei a me lançar, comecei a me esforçar, né, comecei a estudar. Foi aí que Deus começou a fazer uma obra na minha vida, sabe, aí quando foi com dezoito anos fiz um ponto de pregação, ponto de pregação é o início pra você ter uma Igreja, né. Entendeu? É o início. Então o que é que eu fiz? O ponto de pregação lá no [morro do Sena?] perto do presídio de Bangu 1. Aquela coisa toda, né, nesse tempo não tinha ônibus lá pra dentro e lá era difícil, aquele matagal todo, até mesmo eu já arrisquei muito a minha vida, assim, atravessando rua, bêbados me seguindo, né, eu ter que voltar do caminho, bêbados me seguindo. Teve uma vez que um bêbado me seguiu tanto que eu tive que voltar pra trás, e atravessar ali em frente a Fiat, não tem a Fiat ali em Vila Kennedy? Eu atravessei ali, né, que tem uma entrada pra ir pro Guandu, eu atravessei ali, conforme eu atravessei o bêbado também atravessou, quando chegou na pista de subida para a cidade, de descida pra cidade, veio uma Kombi e pegou ele e matou ele, levantou ele alto. E eu fiquei preocupada. Os moradores lá viram, né, e eu fiquei preocupada com aquilo, fiquei com aquele negócio na minha cabeça. Falei: Meu Deus, se eu não tivesse atravessado o homem ali tinha me agarrado, que ele tava com a intenção, ele estava bêbado, eu falei assim: meu Deus, aí os moradores, não fica preocupada não, a senhora não tem culpa, que não sei o quê, aquela coisa. Sempre as pessoas me chamavam de senhora pelo procedimento, né. E nisso foi aquela coisa toda e eu fui pra igreja, encontro de pregação, nervosa. Meu Deus, eu matei um homem. Ai meu Deus, se eu não tivesse atravessado, olha só. Naquele momento eu poderia muito bem desistir de tudo. Talvez você não entenda, né, mas não sei se o Vanderley entende. Profecias, em nome da profecia. A mulher que nunca me conheceu, deu uma [?] pra mim. Eu tava nervosa naquele dia. Mas também não demonstrei nervosismo pra ninguém, eu posso tá com algum problema, mas eu não chego na frente do culto pra mostrar nervosismo. E eu peguei, naquele dia tava ligada ali, orando a Deus, e uma profeta [?] ela pra mim, uma senhora da Assembléia de Deus, dizendo que não era pra eu me preocupar que ele tinha me dado um livramento naquela noite. Eu não ia saber de nada. E naquele dia eu comecei a chorar. Eu falei : meu Deus aquela mulher não sabe de nada, como é que ela descobriu isso? Novinha, foi a primeira profecia. Meu Deus, a mulher não sabe de nada, não tava comigo nem nada, eu tava sozinha, o quê que aconteceu? Eu fiquei aliviada. Depois que acabou a reunião, eu cheguei perto dela, vem cá, o quê que cê tá sabendo? Não, Deus me mostrou que você passou por uma prova agora, um minuto antes de chegar aqui, tava numa perseguição, um homem tava perseguindo a senhora e a irmã pensou que tinha feito, que tinha matado o homem, aquela coisa toda. Aí eu fiquei mais aliviada, bom é a primeira prova que eu passei, eu poderia muito bem parar por ali. Tá entendendo? Foi aí que comecei (...)”

II. História oral temática

Definição: “Por partir de um assunto específico e preestabelecido, a história oral temática se compromete com o esclarecimento ou opinião do entrevistado sobre algum evento definido” (MEIHY,opus cit.,p.51)

Exemplo: O samba segundo dirigentes da Velha Guarda da Portela
(Seu Marinho,66 - diretor; Seu Luis,65; Seu Vieira,74 – presidente)
(Entrevista realizada por M.A. em 25/9/1999, na Portelinha, atual sede da VGP)

"O samba, antes dessa evolução toda, cada bateria de escola de samba batia prum orixá de candomblé, a batida era igual a um atabaque de candomblé. Vou te dar um exemplo: na Portela, quando a bateria era, sem ser isso que é hoje em dia, a bateria, o toque da bateria, a batida da bateria, era de Oxóssi, e assim sucessivamente. Cada escola, tinha sua batida pra um orixá. O samba veio da África prá cá. Até isso. Valorizam ? Não. Porque é negro etc. O samba, ele é um lamento negro. E na língua africana era semba. O nome é semba, na língua africana, nas nações africanas, e o samba é um lamento negro. É um lamento de sofrimento. O samba nasceu na senzala. É que nem aquele samba do Candeia. O samba nasceu na senzala"
Obs: O trecho em questão é a transcrição de uma fala de Seu Marinho.

III. Tradição oral

Definição: “trabalha com a permanência dos mitos e com a visão de mundo de comunidades que têm valores filtrados por estruturas mentais asseguradas em referências do passado remoto (...) Ainda que a tradição oral também implique entrevista com uma ou mais pessoas vivas, ela remete às questões do passado longínquo que se manifestam pelo que chamamos folclore e pela transmissão geracional, de pais para filhos ou de indivíduos para indivíduos” (MEIHY,opus cit.,p.53)

Exemplos: pesquisa sobre histórias “fantásticas” (de lobisomem, almas de escravos, mulher do latão, mula-sem-cabeça etc) contadas em favelas cariocas; tradição oral acerca da libertação dos escravos em comunidades negras (família que se reune para tal propósito no 13 de maio – entrevista de Benedita da Silva à revista Bundas, n.56, 11/7/2000); a tradição oral também pode ser transmitida pela música, como por exemplo, o jongo. É importante notar que a tradição é continuamente reinventada, por exemplo:

EXEMPLO 1: QUESTÃO RACIAL
O Lundu de Pai João (s.XIX): de autoria desconhecida, provavelmente composto no século XIX, após 1837 (pela menção à Casa de Correção), já contém uma crítica à sociedade branca. Alguns versos circulam até hoje, reaproveitados em sambas e rodas de partido alto.


“Quando iô tava na minha tera
Iô chamava capitão
Chega na terra dim baranco
Iô me chama – Pai João

Quando iô tava na minha terá
Comia mia garinha,
Chega na terra dim baranco
Carne seca com farinha.

Quando iô tava na minha tera
Iô chamava generá,
Chega na terra dim baranco
Pega o cêto vai ganhá.

Dizaforo dim baranco
Nó si póri atura
Tá comendo, tá drumindo.
Manda nego trabaiá.

Baranco dize quando more
Jesucrisso que levou,
E o pretinho quando more
Foi cachaça que matou
(...)

Baranco dize – preto fruta,
Preto fruta co rezão;
Sinhô baranco também fruta
Quando panha casião.

Nosso preto fruta garinha
Fruta saco de fuijão;
Sinhô baranco quando fruta
Fruta prata e patacão.

Nosso preto quando fruta
Vai pará na coreção,
Sinhô baranco quando fruta
Logo sai sinhô barão.”

É reaproveitado (e ligeiramente modificado) no Samba de Rubens da Mangueira, gravado por Beth Carvalho no CD “Pérolas do Pagode”, faixa 1 (1998 – Polygram):


“Ô, Isaura
pega na viola
o samba é bom
não vai terminar agora

Lá no Morro de Mangueira
Só não sobe quem não quer
Porque lá tem Tengo-Tengo
Santo Antônio e Chalé

Todo rico quando morre
Foi porque Jesus levou
Todo pobre quando morre
Foi cachaça que matou.”


EXEMPLO 2: ABOLIÇÃO

A) Jongo 1 evocando a libertação dos escravos pela Princesa Isabel, “nas fazendas de café de serra acima [Vale do Paraíba, RJ], ex-escravos cantaram sem parar por três dias e três noites” (esse refrão). Fonte: SILVA,Eduardo. Dom Obá II, o Príncipe do Povo. São Paulo:Companhia das Letras,1997. p.182.

“Eu pisei na pedra/ Pedra balanceou/ Mundo tava torto/ Rainha endireitou”

Segundo Stein, 1990:302: “Jongueiros recorreram aos acontecimentos de 13 de maio para inspiração, referindo-se à atitude vacilante do Imperador (‘pedra’) em relação à abolição, elogiando o ato de sua filha (‘rainha’): Eu pisei na pedra, pedra balanceou/ Mundo ‘tava torto, rainha endireitou”. Para um comentário alternativo, ver também ALVITO,2008

B) Jongo 2 evocando a libertação dos escravos pela Princesa Isabel:

“Tava dormindo/ cangoma* me chamou/ Levanta povo/ que o cativeiro já acabou”

*Cangoma (n.b. angoma, o tambor maior, de tronco escavado e de um couro só, usado no jongo-caxambu): cf. Kik.-kim. ngoma e umb. ongoma, “tambor”
Fonte: LARA,2007.

Que foram fundidos em C):

C) Jongo atribuído a Darcy Monteiro (o saudoso Mestre Darcy da Serrinha, 1932-2002), filho de Vovó Maria Joana (1902-1986), vinda de Valença no interior do Estado do Rio de Janeiro (região do Vale do Paraíba)

“Pisei na pedra/ Pedra balanceou/ Levanta meu povo/ Cativeiro se acabou”